Trabalho reconhecido em todo o país seguirá em formato on-line durante a pandemiaCréditos: Divulgação/arquivo pessoal
Um projeto do Poder Judiciário gaúcho, referência em todo país, ganhará formato virtual a partir de 25/3. Para manter em funcionamento, mesmo durante a pandemia, os Grupos Reflexivos de Gênero, que atende homens agressores envolvidos em violência doméstica, foi firmada uma parceria com o Grupo de Pesquisa Famílias & Contexto, do Programa de Pós-Graduação Psicologia e Saúde da Universidade Federal de Ciências da Saúde.
O lançamento foi realizado na segunda-feira, 8/3, em uma cerimônia que reuniu a Juíza de Direito Madgéli Frantz Machado, titular do 1º Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Porto Alegre e idealizadora dos Grupos Reflexivos de Gênero, a Professora do Curso de Psciologia da UFCSPA, Mariana Gonçalves Boeckel, que coordena o Grupo de Pesquisa, as Juízas de Direito Márcia Kern e Andréa Rezende Russo, o Promotor de Justiça Marcelo Ries, a Defensora Pública Elisa Stoduto, a Coordenadora técnica do Projeto Borboleta, Psicóloga Ivete Machado Vargas, os alunos do mestrado da Universidade que integram a pesquisa e a facilitadora voluntária Genice Trindade.
Com o crescimento da violência doméstica durante a pandemia, a Juíza de Direito Madgéli Frantz Machado ressalta a importância de manter o trabalho: “A parceria com a UFCSPA é uma necessária interlocução entre o a academia e o Poder Judiciário. A violência doméstica contra a mulher é um fenômeno multifatorial e exige a intervenção da área da psicologia e da saúde mental em favor de todos os envolvidos. Especialmente neste momento de isolamento social, a Universidade une-se a nós com uma proposta inovadora, que é a realização dos Grupos Reflexivos de Gênero na modalidade on-line. Trabalhar na reeducação dos autores de violência é atuar fortemente na prevenção e combate da violência doméstica contra a mulher. Por isso, é imprescindível retomar os encontros dos grupos, o que em breve, será uma realidade. Gratidão a todos que tornaram possível esse novo desafio”.
A Professora Mariana Boeckel explica que, em 2019, o projeto de pesquisa de dois alunos resultou na criação de um protocolo de intervenção em grupo com homens autores de violência doméstica. “Formulamos o protocolo para encontros presenciais. Já aplicamos e temos trabalhos sobre essas atividades, mas a pandemia não nos deixou prosseguir. Agora adaptamos para o virtual e, em vez de 12 encontros presenciais, o grupo fará oito de forma remota. O protocolo é estruturado com temas específicos para cada encontro. São trabalhadas questões de gênero, manejo, regulação emocional, resolução de conflitos, comunicação interpessoal, conjugalidade, responsabilização pelos atos violentos, entre outros temas. Apesar de toda dificuldade de acesso, de internet, mesmo preservando o sigilo e a privacidade, nossa expectativa é que este seja um espaço que nos auxilie a ter acesso a estes homens”, resumiu a Coordenadora do Grupo de Pesquisa.
Grupos Reflexivos de Gênero
O Poder Judiciário do Rio Grande do Sul desenvolve o projeto dos Grupos Reflexivos de Gênero desde 2011. A experiência pioneira foi em Porto Alegre, nos Juizados da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, através do Projeto Borboleta.
O Grupo Reflexivo visa a reeducação de homens que se envolveram em situação de violência doméstica, familiar ou conjugal contra a mulher, e se constitui em aliado às ações de atenção e proteção destinadas à mulher, no âmbito da Lei Maria da Penha – Lei 11.340/06. É um espaço de escuta e de reflexão que propicia ao ofensor o reconhecimento da prática de violência de gênero, passando pelo processo de auto responsabilização e, ao final, de transformação de comportamentos e atitudes, promovendo a equidade de gênero.
A participação dos homens no grupo pode ser determinada pelos Juízes de Direito em diversos momentos processuais. Atualmente, o projeto é desenvolvido em 42 Comarcas do estado.